Portugal, 1979: Video hadn’t killed the radio star


1979 será o ano em que Bruce Woolley e os Buggles editarão “Video killed the radio star”, em que se cantava “Pictures came and broke your heart / Put the blame on VCR” (“VCR” era a sigla inglesa para gravador de vídeo).

A realidade portuguesa estava ainda muito distante da era tecnológica cantada nessa canção.

Noutros países da Europa, os gravadores de vídeo existiam num número crescente de casas. Em Portugal, esse tipo de equipamento doméstico era basicamente ficção científica para a generalidade dos portugueses. Muitos lares nem sequer tinham televisão - e a que existia era a preto-e-branco.

Em 1979, Portugal era ainda um país muito atrasado e pobre (e ainda havia 20% de analfabetos). Existia uma classe média em franco crescimento, mas ainda incipiente e maioritariamente remediada. Uma quantidade ainda significativa de portugueses vivia em habitações sem condições mínimas de conforto e habitabilidade. Perto de 15% dos lares ainda nem sequer tinha electricidade. Cerca de um quarto ainda não tinha esgotos. Mais de uma em cada três casas não tinha água canalizada. O acesso universal ao serviço de saúde só chegará nesse ano. Em média, em 1979, nasceram 123 bebés por dia em casa (não em maternidades ou hospitais).

A população urbana ainda era uma minoria. Eram menos de 30% os que viviam nas cidades. Cerca de um terço trabalhava na agricultura. Os ordenados eram baixos e a taxa de inflação superava os 20% ao ano. Em média, cerca de metade dos rendimentos familiares ia-se na alimentação.

Os lares com rádio eram numerosos. Havia rádio em duas em cada três casas. Para muitos, eram transístores e só com acesso à Onda Média. Mesmo muitos dos aparelhos com rede FM não tinham som estéreo. As palavras “FM estéreo” (que se podiam ouvir no indicativo do Rock em Stock) são hoje uma redundância, quase ridículas, mas ouvir FM em estéreo era ainda uma novidade para muita gente.  

Em muitos lares também não havia gira-discos. E o atraso do país estendia-se às edições musicais. Muitos discos não eram editados em Portugal ou só cá chegavam com atraso. E muitas vezes em edições de qualidade sofrível. Havia lojas que vendiam discos importados, mas bastante mais caros.

Gravar cassetes com música passada na rádio era prática comum e constituía, para muita gente, um acesso banal à posse de música.

O Rock em Stock nasce neste contexto, num país que tinha, então, uma população bastante jovem (naquela época, os nascimentos quase duplicavam os óbitos).

À medida que o Rock em Stock ganha cada vez mais notoriedade, o que acontece muito rapidamente, Luís Filipe Barros vai ser cada vez mais requisitado para actuar como DJ em discotecas (que então se chamavam “boîtes”), em noites que eram autênticas sessões ao vivo do Rock em Stock. Luís Filipe Barros ia tornar-se uma “radio star”.

Sem comentários:

Enviar um comentário