Squeeze – Cool for cats

“Cool for cats”: um dos singles mais votados da história do top do Rock em Stock,

no qual foi 1.º lugar em 9, 13, 16 e 30 de Junho de 1979

Além do (hoje) famoso Jools Holland nas teclas, de Gilson Lavis na bateria e de Harry Kakoulli no baixo, formavam os Squeeze a dupla Glenn Tilbrook (que geralmente compunha a música e cantava) e Chris Difford (que fazia a letra), que, com uma enorme dose de exagero, foi, à época, comparada à dupla John Lennon e Paul McCartney. Sempre se consideraram uma banda pop, nunca aceitando o rótulo de banda da New Wave, embora seja indiscutível a influência que a New Wave teve em muitas das canções dos Squeeze.

“Cool for cats” acabou por se tornar um clássico incontornável da New Wave. O nome da canção remete para o programa de televisão “Cool for cats”, que, nos anos 50, foi o primeiro programa da TV inglesa dedicado ao Rock. Foi o único single dos Squeeze cantado por Chris Difford até 1989 (o cantor habitual era Glenn Tilbrook), e Difford fê-lo com mestria, com um inesquecível sotaque cockney.

O single foi retirado do álbum com o mesmo nome, de 1979, e, ao contrário do que se passou com o álbum (que andou pelo top britânico entre Abril e Agosto de 1979, mas nunca passou do 45.º lugar), foi o single com maior sucesso da história dos Squeeze, tendo chegado ao 2.º lugar no top britânico de singles (só não atingiu o 1.º lugar por “culpa” do mega-sucesso “Bright eyes”, de Art Garfunkel, o single mais vendido do ano). “Cool for cats” integraria a lista dos 30 singles mais vendidos em 1979 no Reino Unido.

No top de singles do Rock em Stock, depois de vários tops em 2.º lugar, foi 1.º lugar em 9, 13 e 16 de Junho de 1979, recuperando-o depois em 30 de Junho. “Cool for Cats” foi o single com melhor prestação no top de singles no período em que este foi um top 5 e foi um dos 20 mais votados da história do top de singles (1979-1982). Permaneceu quase três meses no top, desde a sua 1.ª edição em 12 de Maio de 1979 até ao início de Agosto, o que é notável, tendo em conta que se tratava de um top de apenas 5 singles. Na história do top de singles do Rock em Stock (1979-1982), se excluirmos três singles de bandas portuguesas, nenhum outro single iria conseguir superar essa marca.

Clash – Stay free

“Stay free”, a única canção do álbum “Give ‘em enough rope” cantada por Mick Jones.

Jona Lewie – The fairground ride

13.º lugar no top do Rock em Stock de 27 de Junho de 1979

O som inconfundível de Jona Lewie, aqui no álbum de estreia, “On the other hand there's a fist”, um álbum de várias caras, que no Rock em Stock se popularizou pelos nomes de “Be Stiff” e de “Hallelujah Europa”. Editado pela Stiff Records em 1978, foi reeditado em 1979 com um alinhamento diferente e algumas das canções substituídas. Uma terceira versão viria a surgir em 1980, ano em que o disco foi finalmente editado em Portugal.

Patti Smith Group – So you wanna be a rock and roll star

7.º lugar no top de álbuns do Rock em Stock de 27 de Junho de 1979

Editado em Maio de 1979, “Wave” – que inclui esta poderosa versão do clássico dos Byrds “So you wanna be a rock and roll star” – foi o quarto e último álbum de Patti Smith antes de um longo retiro da música. No top de álbuns do Rock em Stock desde Maio, subiu ao 7.º lugar no top de 27 de Junho de 1979.

Patti Smith actua em Portugal em 17 de Agosto, no festival de Paredes de Coura.

Devo – Mongoloid

A versão de “Mongoloid” do álbum “Q: Are we not men? A: We are Devo!”, uma versão mais newwavish do que a versão original, que tinha sido o primeiro single dos Devo,  editado em Inglaterra pela Stiff Records. Foi uma das canções mais populares da banda, e o primeiro álbum de tributo aos Devo (1979) incluía nada mais, nada menos do que três versões de “Mongoloid”.

É uma canção anti-discriminatória e não originou controvérsia de maior, tirando pequenos episódios. Os patrocinadores de um concerto em 1975 - com participação dos Devo - de apoio a um filme de John Waters, que eram pais de uma criança com Síndrome de Down, sentiram-se ofendidos. Uma associação de professores britânica pediu uma reunião a Gerald Casale (autor da letra), neste caso aceitando as explicações que lhes foram dadas sobre o sentido da canção.

Siouxie & The Banshees - Nicotine stain

Siouxsie & The Banshees, “The Scream”, o oitavo álbum a chegar ao 1.º lugar no top do Rock em Stock.

Stranglers – Something better change

No curto período de aproximadamente 2 anos, os Stranglers colocaram todos os seus primeiros cinco álbuns no top 10 britânico, quatro desses cinco álbuns (todos os de estúdio) subiram aos quatro primeiros lugares e dois deles ao 2.º lugar. Os Stranglers foram a mais bem-sucedida banda oriunda do movimento Punk no Reino Unido.

“Something better change”, que também chegou ao top 10 britânico de singles, é uma das canções que têm integrado o alinhamento dos concertos dos Stranglers em 2019, a par de outras músicas dos primeiros álbuns (o período abrangido por este blog) como “Grip”, “5 Minutes”, “Raven”, “Peaches”, “Duches”, “No more heroes” ou “Hanging around”.

Os Stranglers actuam em Portugal no dia 30 do próximo mês, em Cantanhede, 40 anos depois do primeiro concerto que deram no nosso país (1979), que ocorreu um ano após um concerto previsto para Cascais e cancelado no próprio dia (1978).

Tom Robinson Band – Bully for you

1.º lugar no top de álbuns do Rock em Stock em 9, 13, 16 e 23 de Junho de 1979

“Bully for you”, canção composta por Peter Gabriel e com letra de Tom Robinson, do álbum “TRB Two” (1979), o segundo e último de Tom Robinson e a sua primeira banda, Tom Robinson Band. A versão de Peter Gabriel seria editada anos mais tarde, em discos piratas (pode ser ouvida aqui).

As palavras “we don’t need no aggravation” são sucessivamente repetidas na parte final de “Bully for you” e o facto de o agente da banda (Steve O’Rourke) ser também o agente dos Pink Floyd suscitou a alegação, por parte de Tom Robinson e do guitarrista dos TRB Danny Kustow, de que essas palavras terão inspirado “Another brick in the Wall” (“we don’t need no education”), editada pelos Pink Floyd mais tarde, nesse ano de 1979.

Os dois discos da Tom Robinson Band estiveram em destaque nos primeiros três meses do Rock em Stock. Depois do primeiro, “Power in the darkness” (melhor posição: 3.º lugar logo na 1.ª edição do top, em 28 de Abril), “TRB Two” entrou no top em 9 de maio, viria a ascender ao 2.º lugar em 30 de Maio e ao 1.º lugar em 9, 13 e 16 de Junho, recuperando-o depois em 23 de Junho. Tom Robinson não voltaria ao 1.º lugar no Rock em Stock. O álbum seguinte (já com uma nova banda) teria uma curta e bem-sucedida passagem pelo top, mas os Clash e os U2, à vez, impediram-no de chegar ao 1.º lugar.

Clash – Safe european home

12.º lugar no top de álbuns do Rock em Stock de 20 de Junho de 1979

No final de 1977, Joe Strummer e Mick Jones foram à Jamaica buscar inspiração para escrever canções para o segundo álbum dos Clash. A experiência, revelariam mais tarde, foi uma terrível desilusão - e é ao ambiente hostil e de insegurança que sentiram em Kingston que se refere a letra de “Safe european home”, do álbum “Give ‘em enough rope” (“I went to the place where every white face / Is an invitation to robbery / And sitting here in my safe European home / Don't want to go back there again”).

No trecho final de “Safe european home” é sucessivamente repetida a expressão “Rudie can’t fail”, surgindo a contraposição “Explosive european home” (“Rudie come From Jamaica / Rudie can't fail / Explosive European home”). “Rudie” ou “rude boy” era o termo usado para a primeira geração de jamaicanos nascidos em Inglaterra, filhos de imigrantes jamaicanos e geralmente olhados de forma preconceituosa e que os Clash pretenderam homenagear na canção do álbum seguinte intitulada, precisamente, “Rudie can’t fail”.

Ambas as canções – “Safe european home” e “Rudie can’t fail” – fariam parte do filme documental “Rude boy”, de 1980.

O álbum “Give ‘em enough rope” era 12.º lugar no top de álbuns do Rock em Stock de 20 de Junho de 1979.

Siouxsie & The Banshees – Jigsaw feeling

1.º lugar no top de álbuns do Rock em Stock de 20 de Junho de 1979

O aclamado e histórico álbum de estreia de Siouxsie & The Banshees, “The Scream”, constituiu um verdadeiro marco. O álbum foi, por exemplo, uma das grandes influências para os Joy Division, como revelariam os próprios. Um álbum tão importante foi gravado em apenas uma semana. A banda de Siouxsie Sioux (nome artístico da cantora Susan Ballion) já tinha ganho alguma notoriedade em concertos e editou o primeiro single no Verão de 1978, produzido (tal como o álbum) pelo desconhecido Steve Lillywhite (foi o primeiro sucesso obtido por este produtor que viria a produzir nomes como Rolling Stones, U2, Talking Heads, Psychedelic Furs, Simple Minds ou Peter Gabriel). No embalo do sucesso do single (que chegou a 7.º lugar no top britânico, mas ficaria de fora do álbum), a banda, ainda no Verão de 78, gravou o álbum em poucos dias. Editado quase no fim do ano, viria a atingir o 12.º lugar no top britânico.

No top de álbuns do Rock em Stock desde Maio, chegou ao 1.º lugar no top de 20 de Junho de 1979.

Stranglers – Nice n’ sleazy

“Nice n’ sleasy”, a canção dos Stranglers que deu o nome a um festival de música Punk e Ska que se realiza em Inglaterra.

Os Stranglers, que continuam em boa forma e a tocar as músicas dos primeiros álbuns, actuam em Portugal no dia 30 do próximo mês. É em Cantanhede, na Expofacic.

Uriah Heep – I’m alive

20.º lugar no top de álbuns do Rock em Stock de 16 de Junho de 1979

“I’m alive”, do álbum “Fallen angel”, dos ingleses Uriah Heep, que entrou para o top de álbuns do Rock em Stock em 16 de Junho de 1979 (20.º lugar).

Police – Next to you

“Next to you”, o tema de abertura do álbum de estreia dos Police, “Outlandos D’Amour”.

Patti Smith Group – Because the night

Quando olhamos para a obra de Patti Smith, é impressionante constatar que o single “Because the night” foi o único disco da cantora a ter grande sucesso. Costumamos associar um “one hit wonder” a músicos bem menos importantes. Uma música que, ainda por cima, não foi composta por Patti Smith, acabou, de qualquer forma, por ter uma importância central na carreira da cantora, porque as receitas obtidas com ela (o original e as muitas covers que foram feitas) ajudaram muito – se não tiverem tido mesmo uma importância decisiva – a que Patti Smith tivesse sobrevivido no meio musical.

A história de “Because the night” é conhecida. Foi uma das muitas músicas que Bruce Springsteen compôs para o álbum “Darkness on the edge of town”. Bruce Springsteen estava, no entanto, insatisfeito com a canção (que não conseguia acabar, praticamente só tinha a letra do refrão), por se tratar de um tipo de canção de amor que não assentava bem naquilo que o músico queria para o novo álbum. O produtor Jimmy Iovine, que já tinha produzido Bruce Springsteen e estava a produzir o novo álbum de Patti Smith (“Easter”), propôs a Springsteen dar a canção a Patti Smith, para a completar e gravar. Bruce Springsteen aceitou, Patti Smith ficou hesitante. Uma noite, Patti Smith decidiu ouvir a cassete da demo gravada por Bruce Springsteen e, em poucas horas, escreveu a letra, enquanto aguardava pelo telefonema semanal do seu namorado (viviam em cidades diferentes, tinham pouco dinheiro, as chamadas interurbanas eram caras) – “Love is a ring / A telephone”.

A autoria da canção é, por isso, atribuída a ambos – Bruce Springsteen e Patti Smith –, embora não tenha sido feita em conjunto. Bruce Springsteen acabaria por cantá-la muitas vezes ao vivo, logo a partir da digressão de “Darkness on the edge of town”, mas só editaria uma versão de estúdio cantada por si em 2010, para o álbum “The promise”, composto por músicas que tinham ficado de fora de “Darkness on the edge of town”. A letra é a de Patti Smith, com pequenas alterações.

Devo – Be Stiff

A New Wave e o Punk Rock (é na Stiff que nasce aquele que é considerado o primeiro disco punk em Inglaterra) não teriam sido os mesmos sem a histórica editora independente Stiff Records, criada em 1976, que editou nomes como Damned, Feelies, Madness, Lene Lovich, Devo, Ian Dury, Elvis Costello, Members, Plasmatics ou Graham Parker.   

A canção “Be Stiff”, dos Devo, editada em single pela Stiff, tornou-se uma espécie de hino da editora, mas, na realidade, a sua letra não tem nada a ver com a editora, sendo a canção anterior à criação da Stiff: já existia em 1974 ou 1975, quando foi gravada pelos Devo uma demo (que seria editada em CD em 1990). Com a Stiff, a canção ganhou um duplo sentido.

A segunda digressão da Stiff Records, de 1978 (a terceira e última viria a passar por Portugal), acabou por se chamar “Be Stiff Route 78” e os concertos terminavam com todos os músicos em palco a tocar “Be Stiff”, liderados por Lene Lovich. A convite da Stiff, os músicos que integraram essa digressão acabaram por gravar, ainda em 1978, um disco inteiro só com versões da canção “Be Stiff” (por exemplo, a versão de Jona Lewie, a versão de Wreckless Eric e a versão de Lene Lovich), a que se juntou uma gravação ao vivo da canção (gravada naquela digressão). “Be Stiff”, dos Devo, é, provavelmente, a canção que mais covers teve em menos tempo após a edição do original.  

Quanto ao original dos Devo, foi gravado já durante as sessões de “Q: Are we not men? A: We are Devo!” e foi, por isso, produzido já por Brian Eno. A capa do single acabaria por ser uma primeira versão daquela que viria a ser a capa do álbum de estreia dos Devo:

Simple Minds – Life in a day

O tema-título do álbum de estreia dos Simple Minds, “Life in a Day”. O álbum andou pelo top britânico em Maio e Junho de 1979 (chegaria ao 30.º lugar) e o single “Life in a day” não ultrapassou o 62.º lugar no top de singles britânico, em Maio desse ano. Dos quatro singles editados em 1979 e 1980 por esta banda escocesa, foi o único a chegar aos tops de vendas.

Em 2012, em entrevistas concedidas a propósito da digressão retrospectiva desse ano exclusivamente dedicada aos cinco primeiros álbuns da banda, Jim Kerr revelaria ter um sentimento agridoce relativamente ao álbum de estreia do grupo: por um lado, tinham conseguido concretizar o sonho de editar um disco e tinham finalmente um contrato com uma editora; por outro lado, sentiam que não tinham conseguido reproduzir fielmente em estúdio a essência das canções originais, que eram mais “dark wave” do que o que ficou em disco. A desilusão, recordou Kerr, foi redobrada quando ouviu uma cassete de Unknown Pleasures, dos Joy Division...

Joe Jackson – One more time

3.º lugar no top de álbuns do Rock em Stock de 9 de Junho de 1979

“One more time”, a canção de abertura do álbum “Look Sharp!”, de Joe Jackson, 3.º lugar no top de álbuns do Rock em Stock de 9 de Junho de 1979. “One more time”, inspirada no fim do relacionamento de Joe Jackson com uma namorada, foi editado em single (apenas) em Inglaterra, tendo vendido muito pouco (quanto ao álbum, atingirá a sua melhor posição no top 100 britânico – o 40.º lugar – só no final de Setembro de 1979).

Clash – Tommy gun

18.º lugar no top de álbuns do Rock em Stock de 9 de Junho de 1979

A chegada ao top do Rock em Stock dos Clash, a banda que haveria de se tornar – não será muito exagerado dizê-lo – uma espécie de coqueluche do Rock em Stock. O álbum “Give ‘em enough rope”, o segundo dos Clash, entrou para o top de álbuns (no 18.º lugar) em 9 de Junho de 1979. Seria o início de um longo namoro entre os Clash e os ouvintes do Rock em Stock. O top do Rock em Stock haveria de terminar em 1982 com os Clash a liderar simultaneamente o top de singles e o top de álbuns.

Embora não tanto como os Stranglers, os Clash foram, desde a primeira hora, bem-sucedidos no Reino Unido, e o álbum “Give ‘em enough rope”, um disco punk, teve uma entrada fulgurante para o 2.º lugar no top 100 britânico (os Clash repetiriam a proeza mais tarde com outro álbum). Quase simultaneamente, o single “Tommy gun” entrava no top de singles, chegando ao 19.º lugar (1979).   

Tommy gun era um dos nomes pela qual era conhecida a metralhadora “Thompson Gun”, que se tornou tristemente célebre durante a Lei Seca nos EUA, quando era usada tanto pela polícia, como pelos gangsters. É o som da metralhadora que o baterista Topper Headon, recém-entrado nos Clash, reproduz várias vezes com a sua bateria ao longo da canção. Sobre a letra da música, Joe Strummer revelaria anos mais tarde que a canção nasce da ideia de que os terroristas provavelmente gostavam de ver as notícias sobre os seus actos criminosos.

Meat Loaf – Bat out of hell

2.º lugar no top de álbuns do Rock em Stock de 9 de Junho de 1979

O extraordinário fenómeno em que se tornou o álbum “Bat out of hell”, da dupla Meat Loaf e Jim Steinman, ajuda a explicar porque é que um disco editado um ano e meio antes de nascer o Rock em Stock se manteve mais de 8 meses no top do Rock em Stock.

Estamos a falar de um dos dez álbuns mais vendidos de todos os tempos. Só nos EUA vendeu mais de 14 milhões de cópias. O álbum manteve-se no top britânico, praticamente sem interrupções, entre 1978 e 1985 (dos quais cerca de 4 anos ininterruptos, de Janeiro de 1979 a Novembro de 1982) e a soma de todas as semanas de presença do álbum no top britânico (522) equivale a mais de 10 anos de top, façanha que muito poucos conseguiram.

Curiosamente, o disco nunca chegou perto do n.º 1, nem nos EUA (onde nunca passou do 14.º lugar), nem em Inglaterra (chegou ao 9.º no Verão de 1981, quase 4 anos depois de ter sido editado, repetindo a proeza 32 anos depois). Na Europa, só foi n.º 1 na Holanda.

Presente no top de álbuns do Rock em Stock desde a sua primeira edição (19.º no top de 28/4/1979), o álbum “Bat out of hell” aí permaneceria até ao top de 5 de Janeiro de 1980, longevidade que, na história dos tops do Rock em Stock, só seria superada por três discos. Mas também nunca chegou ao 1.º lugar. A melhor posição foi o 2.º lugar, atingida no top de 9 de Junho de 1979.

A história de “Bat out of hell” tinha tido outros contornos épicos. Desde 1975, e ao longo de dois anos e meio, o disco foi sistematicamente recusado pelas editoras (Meat Loaf e Jim Steinman chegaram a ser enxovalhados e humilhados com respostas do tipo “vão aprender a fazer música rock”) e só veria a luz do dia já quase no fim de 1977. Foi recebido inicialmente com indiferença – e no top britânico só entrará meio ano depois. Não é um disco fácil. É no tema “Bat out of hell” que, principalmente nos EUA, a rádio começa a apostar – e estamos a falar de uma música com cerca de 10 minutos de duração.

Em 1979, o tema-título do álbum, “Bat out of Hell”, foi editado em single em três ou quatro países (numa versão mais curta, que não chegava aos 7 minutos). Dos singles retirados do álbum, foi o mais bem-sucedido, chegando ao 15.º no top britânico de singles em Fevereiro de 1979.

Ultravox – I can’t stay long

“I can´t stay long”, do álbum “Systems of romance”, o último dos Ultravox liderados por John Foxx.

Portugal, 1979: Video hadn’t killed the radio star

1979 será o ano em que Bruce Woolley e os Buggles editarão “Video killed the radio star”, em que se cantava “Pictures came and broke your heart / Put the blame on VCR” (“VCR” era a sigla inglesa para gravador de vídeo).

A realidade portuguesa estava ainda muito distante da era tecnológica cantada nessa canção.

Noutros países da Europa, os gravadores de vídeo existiam num número crescente de casas. Em Portugal, esse tipo de equipamento doméstico era basicamente ficção científica para a generalidade dos portugueses. Muitos lares nem sequer tinham televisão - e a que existia era a preto-e-branco.

Em 1979, Portugal era ainda um país muito atrasado e pobre (e ainda havia 20% de analfabetos). Existia uma classe média em franco crescimento, mas ainda incipiente e maioritariamente remediada. Uma quantidade ainda significativa de portugueses vivia em habitações sem condições mínimas de conforto e habitabilidade. Perto de 15% dos lares ainda nem sequer tinha electricidade. Cerca de um quarto ainda não tinha esgotos. Mais de uma em cada três casas não tinha água canalizada. O acesso universal ao serviço de saúde só chegará nesse ano. Em média, em 1979, nasceram 123 bebés por dia em casa (não em maternidades ou hospitais).

A população urbana ainda era uma minoria. Eram menos de 30% os que viviam nas cidades. Cerca de um terço trabalhava na agricultura. Os ordenados eram baixos e a taxa de inflação superava os 20% ao ano. Em média, cerca de metade dos rendimentos familiares ia-se na alimentação.

Os lares com rádio eram numerosos. Havia rádio em duas em cada três casas. Para muitos, eram transístores e só com acesso à Onda Média. Mesmo muitos dos aparelhos com rede FM não tinham som estéreo. As palavras “FM estéreo” (que se podiam ouvir no indicativo do Rock em Stock) são hoje uma redundância, quase ridículas, mas ouvir FM em estéreo era ainda uma novidade para muita gente.  

Em muitos lares também não havia gira-discos. E o atraso do país estendia-se às edições musicais. Muitos discos não eram editados em Portugal ou só cá chegavam com atraso. E muitas vezes em edições de qualidade sofrível. Havia lojas que vendiam discos importados, mas bastante mais caros.

Gravar cassetes com música passada na rádio era prática comum e constituía, para muita gente, um acesso banal à posse de música.

O Rock em Stock nasce neste contexto, num país que tinha, então, uma população bastante jovem (naquela época, os nascimentos quase duplicavam os óbitos).

À medida que o Rock em Stock ganha cada vez mais notoriedade, o que acontece muito rapidamente, Luís Filipe Barros vai ser cada vez mais requisitado para actuar como DJ em discotecas (que então se chamavam “boîtes”), em noites que eram autênticas sessões ao vivo do Rock em Stock. Luís Filipe Barros ia tornar-se uma “radio star”.

Styx - Great white hope

“Pieces of eight”, o oitavo álbum dos Styx, o álbum ao qual o Rock em Stock foi buscar a parte principal do indicativo do programa. Melhor posição no top de álbuns do Rock em Stock: 7.º lugar, logo no primeiro top (28/4/1979).

Joe Jackson – Sunday papers

10.º lugar no top de álbuns do Rock em Stock de 6 de Junho de 1979

A chegada de Joe Jackson ao top do Rock em Stock, com o álbum de estreia “Look Sharp!”, que entrou no top de álbuns, para o 10.º lugar, em 6 de Junho de 1979.

Em algumas actuações ao vivo, em 1979 e 1980, podemos ver Joe Jackson em palco com um jornal sensacionalista nas mãos durante a música “Sunday papers”, que era rasgado perto do fim da canção. Esse jornal era geralmente o News of the World, que acabou há alguns anos após um escândalo de escutas ilegais. Em alguns concertos, Joe Jackson limitava-se a ler notícias em voz alta entre o refrão da música (por exemplo, aqui).

Joe Jackson falando recentemente sobre “Sunday papers”, para o programa de televisão holandês Top 2000 à Go-Go: aqui.

Cure – Object

O álbum de estreia dos Cure, “Three imaginary boys” foi editado no final da Primavera de 1979. Teve boa crítica mas vendeu pouco, tendo tido uma passagem fugaz pelo top britânico em Junho de 1979, chegando ao 44.º lugar (no vídeo, depois de aparecer a mensagem de erro, clicar em "ver no you tube").

Blondie – Hanging on the telephone

“Hanging on the telephone” foi uma canção que os Nerves editaram, sem sucesso, em 1976 (naquele que foi o único disco dessa banda), e que foi regravada pelos Blondie para o álbum “Parallel lines” e editada em single na Europa, tendo atingido o 5.º lugar no top britânico.

Devo – Gut feeling / (Slap your mammy)

Em crescendo, iniciando com uns simpáticos acordes que poderiam ser os de uma canção pop e terminando num ritmo punk avassalador nos 50 segundos finais de “(Slap your mammy)”, passando por uma inusual introdução de dois minutos (na versão inicial, eram mais de três minutos), esta música do álbum “Q: Are we not men? A: We are Devo!” foi um dos grandes clássicos dos Devo.

A popularidade que esta música teve entre nós, por força do Rock em Stock, conduziu a uma edição exclusiva em single em Portugal, em 1979, que incluiu uma rara versão de Gut Feeling de menos de três minutos.

Ultravox – Slow motion

“Systems of romance” foi o derradeiro álbum dos Ultravox com John Foxx (vocalista e líder da banda até 1979). Foi o álbum do abandono de uma ligação mais directa ao punk e nele já é possível encontrar os traços que marcarão os dois discos seguintes da banda.

“Systems of Romance” foi um álbum influente na música eletrónica que se fez depois e Gary Numan disse repetidas vezes que este foi o disco que mais o inspirou (elegendo “Slow motion” – uma “fantástica fusão de diferentes elementos” – como a sua música favorita do álbum). “Durante muitos, muitos anos”, revelou mais tarde Gary Numan, “o álbum Systems of romance foi o modelo que eu tentei alcançar – nunca o consegui”. “Era exactamente aquele o caminho que eu queria seguir com a minha música”. Gary Numan, aliás, nunca poupou elogios aos Ultravox. “Estavam a fazer o que mais ninguém tinha feito antes. Estavam a fazer o que eu queria fazer”. Os Ultravox estavam “anos luz à frente de tudo o resto” em termos de música eletrónica. “Eu estava a tentar ser tão bom como os Ultravox”.

Apesar da sua importância e de ter sido relativamente bem recebido pela crítica, o álbum “Systems of romance” teve o mesmo falhanço comercial dos discos anteriores da banda. Ironicamente, John Foxx só viu um disco da “sua fase” dos Ultravox chegar aos tops de vendas já em 1981 (precisamente o single “Slow motion”), depois do sucesso do primeiro álbum editado pelos Ultravox após a sua saída.

Joy Division – Disorder

O histórico álbum de estreia dos Joy division, “Unknown pleasures”, que acabou por ser o único álbum dos Joy Division que Ian Curtis viu ser editado, é hoje aclamado pela generalidade da crítica, embora nem todas as críticas tenham sido tão boas à época em que foi lançado. Que “Unknown pleasures” foi um marco, é hoje indiscutível. Quanto às vendas, foram, inicialmente, muito fracas. O álbum foi basicamente um falhanço comercial. Chegaria a n.º 1 no top da Nova Zelândia apenas 2 anos depois (Junho de 1981) e teve uma passagem muito modesta e fugaz (uma semana) pelo top britânico no Verão de 1980, já após o suicídio de Ian Curtis (mas tinha liderado, por uma semana, o top Indie britânico, em Fevereiro de 1980).

Em Portugal, os Joy Division permaneceram ignorados durante muito tempo, até António Sérgio (Rolls Rock, para uma audiência mais restrita) e Luís Filipe de Barros (Rock em Stock, para o grande público) terem começado a divulgá-los.