Clash ao vivo em Portugal (30 de Abril de 1981)

“(White Man) In Hammersmith Palais”, uma das canções que fazia parte do alinhamento dos concertos da digressão que trouxe os Clash a Portugal

 

Era falado como “o concerto do ano” em Portugal. Dias antes, em Barcelona, Bruce Springsteen, em palco, referia-se aos Clash como “a maior banda da actualidade”, antes de tocar uma versão sua de “Spanish Bombs”. Uma opinião que talvez fosse subscrita por uma enorme legião de fãs que a banda tinha em Portugal. O programa de rádio (FM) mais ouvido em Portugal poderia ser disso um bom indicador. No dia em que os Clash actuaram em Portugal, o triplo álbum “Sandinista!” estava em 1.º lugar no top do Rock em Stock e já levava 11 semanas no 1.º lugar, um recorde absoluto. E o álbum anterior da banda, o duplo “London Calling”, era o álbum mais votado de sempre no top do Rock em Stock (e tinha sido sete vezes n.º 1) (discos que, curiosamente, foram editados em Portugal com enorme atraso, prejudicando muito as suas vendas no nosso país).

 

Sem surpresa, portanto, o concerto, marcado para o Pavilhão do Dramático de Cascais, esgotou, com uma enchente de 10 mil pessoas, embora fosse num dia de semana (5.ª feira). Rezam as crónicas que os Clash subiram ao palco às 22h45, arrancando, para delírio geral, com o tema “London Calling” (sempre a canção de abertura daquela digressão) e que o público português foi presenteado com uns nada usuais três “encores”. Além de um especial “Lisbon’s Burning” (“London’s Burning” com o “London” da letra alterado para “Lisbon”), os felizardos que assistiram ao concerto ouviram, em primeira mão no nosso país, o tema “This is Radio Clash”, que a banda só editaria no final do ano, embora já fosse tocada ao vivo (e por pouco não ouviram já a canção “Should I Stay or Should I Go”, tocada ao vivo a partir do Verão de 1981, embora só viesse a ser editada em Maio de 1982).  

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O bilhete do concerto dos Clash em Portugal em 30 de Abril de 1981. Custava 400$00 (2,00€).

 

Embora os três “encores” dêem uma ideia de como o público vibrou com a actuação da banda – e, a avaliar pelo testemunho de João Grande, vocalista dos Táxi, Joe Strummer e Mick Jones estavam eufóricos no regresso ao camarim no final do concerto –, a crítica, nos dias seguintes, não foi unanimemente elogiosa do concerto.

 

Já assim não sucedeu com a actuação dos Táxi, que tocaram na 1.ª parte, antes dos norte-americanos Pearl Harbour & The Explosions (cuja vocalista Pearl Gates era casada com o baixista dos Clash). A curta actuação dos Táxi (seis canções) foi muito elogiada pela crítica (possivelmente, terá ajudado o facto de as expectativas não serem elevadas) e o público também gostou. Os Táxi nem queriam acreditar quando, terminada a sua actuação, o público gritou sem parar por um “encore”, tendo a banda voltado ao palco para tocar “Chiclete” pela segunda vez. Os Táxi beneficiaram também do excelente som proporcionado pelos técnicos de som dos Clash (a quem os Táxi tinham oferecido duas garrafas de vinho do Porto). Segundo Joe Strummer terá dito a João Grande, era a primeira vez, na digressão dos Clash, que uma banda de suporte tinha tido direito a um “encore”.

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Joe Strummer à conversa com o vocalista dos Táxi (e Aníbal Miranda?), em fotografia publicada no Blitz

 

A reacção do público aos Táxi não era assim tão surpreendente. Na semana do concerto de Cascais, o álbum de estreia da banda, embora fosse uma novidade e ainda não estivesse editado, estava já em 1.º lugar no top do Rock em Stock (curiosamente, ex aequo com o triplo álbum “Sandinista!” dos Clash). Onze dias antes, os Táxi, já em 2.º lugar no top do Rock em Stock, eram já uma das bandas mais ansiadas para o Festival Rock em Stock (em Lisboa), cuja presença a banda falhou à última hora, por dois dos seus membros terem ficado retidos na fronteira de França com Espanha. Por causa disso, o concerto de dia 30, na 1.ª parte dos Clash, acabou por ser o primeiro concerto dos Táxi a que os lisboetas puderam assistir e, apesar de todos ansiarem pelos Clash, havia também muita vontade de ver os Táxi ao vivo.

 

Quanto aos Clash, nunca mais voltaram a Portugal.

1 comentário:

  1. Sou de 1969... na altura desse Concerto, estava CIC (Colég Inter. Carvalhos)...
    The Clash... sinónimo de canelas com negras... saudades... +- 35 aninhos... kkkkkk

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